Parece que foi ontem que tivemos que nos acostumar a uma nova rotina imposta pela pandemia do novo coronavírus. Máscaras, álcool em gel, isolamento social, trabalho em casa e aulas online já fazem parte da nossa rotina. O mundo caminha para o segundo ano dos novos hábitos de vida. O que aprendemos e como tornar esse novo ciclo menos nocivo à saúde mental de crianças e adultos?
A associada Janaína Andrade, também segunda diretora de Assuntos Socioculturais da Associação dos Servidores da Justiça do Distrito Federal (Assejus), conhece o desafio de manter os dois filhos atentos às aulas online e, concomitantemente, trabalhar como servidora pública e desenvolver os afazeres domésticos.
“Como mãe de duas crianças, de 7 e 10 anos, foi difícil estabelecer uma divisão clara entre estar trabalhando e estar disponível para atender às demandas deles. Combinamos alguns códigos que variaram ao longo do ano: um bilhete na porta do escritório com a escrita ‘trabalhando’, um papel colado nas costas da cadeira de trabalho escrito ‘que tal pedir ajuda para o papai?’, e até mesmo o crachá do TJDFT pendurado na maçaneta da porta, a fim de sinalizar que eu estava trabalhando”, conta a associada.
Contudo, mesmo com o planejamento doméstico com os filhos, a diretora afirma que nem sempre é possível vencer toda a agenda estabelecida para aquele dia. “Já me conformei que os dias nem sempre serão produtivos da forma como planejei e, na grande maioria deles, há um desequilíbrio entre as obrigações do trabalho, os afazeres domésticos e a atenção solicitada pelos meus filhos. Por outro lado, o teletrabalho me permitiu controlar o tempo de forma diversa da inicialmente planejada e quando o resultado não é o esperado, eu sei que ainda terei a noite para recuperar o tempo perdido: seja para dar mais atenção às crianças ou entregar a produtividade diária de trabalho”.
Para a psicóloga escolar e educacional, mestre em Psicologia Clínica & Cultura pela Universidade de Brasília (UnB) e professora de Psicologia pela PUC Goiás, Ana Cândida Cantarelli, a receita para passar pelo segundo ano de pandemia é diminuir a ansiedade pelo êxito recorrente de bons resultados. “Agora é hora de aplicar o que foi aprendido no ano anterior e se antecipar às prováveis dificuldades já conhecidas, provavelmente com menos ansiedade, pois sabemos hoje um pouco mais do que sabíamos ontem em relação ao estudo e trabalho remoto. Psicologicamente, parece ser bastante necessário contar com aquilo que é possível, palpável e próximo para lidar com as demandas da escola e do trabalho em 2021, ou seja, compreender que vivemos momentos atípicos que exigem de nós também flexibilidade e adaptação”, ressaltou a psicóloga.
Segundo a especialista, o planejamento é fundamental para estabelecer limites possíveis ás crianças e aos adultos. “Organizar-se, de forma a pensar no planejamento do dia, seguido pela semana, sem antecipações exageradas nem controles metódicos e extremos. Viver o hoje, o agora, com vistas a proporcionar às crianças e jovens a possibilidade de um tempo não ansiogênico, sem preocupações demasiadas com a produtividade acadêmica, competição e desempenho. Tentar desenhar espaços – físicos ou não – para que cada um possa exercer sua individualidade e momentos separados de reunião e conversa familiar; delimitar horários-limite para resolver problemas de trabalho e atender demandas laborais, entendendo que é possível que hoje dê tudo certo, mas amanhã surja algum problema que, com parcimônia, pode ser criativamente solucionado”, finalizou.
Em relação ao teletrabalho, o planejamento entre gestores e colaboradores também é fundamental para que não haja uma sobrecarga de afazeres, como alerta a professora Gardênia Abbad, doutora em Psicologia (Universidade de Brasília – UnB) e Professora Associada dos programas de pós-graduação de Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações e em Administração (PPGA) na UnB. A especialista alerta ainda que cuidar do bem-estar dos colaboradores pode evitar exaustão e sofrimento. “As pesquisas vinham mostrando muitos benefícios do teletrabalho planejado. Sem investimento na área científica durante esse período, adoecerão tanto os gestores quanto os trabalhadores. A premissa básica para o sucesso do teletrabalho é a relação de confiança”, reforçou.